"Good afternoon, ladies and gentlemen. Welcome aboard our Boeing 747-400 and to flight 247 to London, Heathrow Airport, with a stop at São Paulo, Guarulhos. Our flight to São Paulo will last 45 minutes and the continuation to London will take 13 hours."
Assim comecou o retorno ao lar, com uma inglesa com seus 35 anos, com um sotaque fantástico, fazendo o speech do vôo. Mas eu não prestava a mínima atenção nele. A ponte aérea Londres - Rio já tinha impresso esse texto em minha mente, assim como as instruções de segurança que se seguiram nos monitores do avião.
Resolvi ignorar tudo isso e olhar pra fora. Comecei a lembrar da minha infância sentado no finado terraço do aeroporto. Esperava minha mãe retornar de São Paulo onde trabalhava durante a semana. Meu pai sempre me colocava sentado no parapeito da sacada e me mostrava os aviões. Ficava fascinado com aquilo tudo e sonhava, um dia, estar dentro de um daqueles monstros metálicos.
Cá estava eu, dentro de um deles. As vezes não nos damos conta mas sem perceber realizamos, todo dia, um pequeno sonho de infância que fica esquecido no passado.
Infância...não almejava ir embora. Estava feliz ali. Estava realmente em casa, com meus pais, família e amigos. Jogar bola na rua (inclinada), jogar bonequinhos com "para-quedas" da janela dos amigos, passear de bicicleta... realmente as coisas são mais simples quando se é uma criança.
Porque almejar mudar se a vida era boa onde estava? Porque desejar sair de casa? Engraçado como o conceito de casa mudou durante todos esses anos, a vida simples da infância se tornou atribulada e incompatível com o lugar onde estava.
"Ladies and gentlemen, welcome to São Paulo, Guarulhos International Airport. The outside temperature is 26 degrees. We'll remain on the ground for 1 hour and 30 minutes, during this time drinks will be served and the crew will be available for any inquiries. Thank you for flying British Airways."
Já estava em São Paulo. Meus pensamentos foram tão longe que não percebi a decolagem e o pouso. Engraçado como essas coisas fazem a gente se desligar da realidade que nos cerca.
Realidade..que me foi jogada na cara com uma sensação horrível de não estar adequado às necessidades da sociedade, de não se sentir parte integrante da comunidade onde vivia.
Com essa sensação pensei a respeito e vi o que era preciso para que me sentisse em casa de novo. A solução foi ir embora e fazer vida nova, e fiz o que foi preciso para que isso acontecesse.
"Attention, crew, prepare for takeoff."
Será que não percebi o tempo passar de novo? Não importa.
O avião descola-se do solo paulista, vou subindo em direção ao infinito velozmente mas minha mente foi mais rápida. Já estava em casa, com a mala, colocando a chave na porta da frente.
October 11, 2007
Time goes by
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
2 comments:
E aí você derrepente se tocou que havia sentado ao lado de uma moça loira de olhos azuis e pele de porcelana, Scarlett Johansson.
Também quero viajar... Compra uma passagem pra mim?
;]
Post a Comment