Toca o telefone:
- O senhor pediu um taxi para o aeroporto? Pergunta a voz na outra ponta da linha.
- Sim, agora a pouco.
- Pode descer, por favor. O carro está chegando.
Agradeci e desliguei o telefone. Busquei minha mala, e a tranquei com um cadeado com senha. Alguns amigos que trabalham no aeroporto me disseram que ele não adianta muito mas virou um vício de viagem. Verifiquei minha mochila:
- Deixe-me ver...carteira...chave de casa...passaporte...livro...roupa extra...desodorante...escova de dente...escova...
Tudo me parecia estar lá, como havia deixado na noite anterior. Sabendo disso, coloquei a mochila nas costas, apanhei o material fotográfico, afinal como poderia voltar para casa sem minha inseparável câmera, e a mala e desci para embarcar no taxi.
Chegando na calçada ele já estava no meu aguardo e quando me aproximei, o motorista prontamente saiu do taxi para me ajudar com a minha carga. O taxista era um senhor com uns 60 anos, baixinho com boina e bigode. Parecia uma caricatura. Sempre solícito e sorrindo ele ajudou a guardar meus volumes no porta-malas do carro.
Após o entrar no carro, o taxista prontamente acelerou e lá fomos nós rumo ao aeroporto. Durante a viagem até a Ilha do Governador, resolvi ligar para meus pais e me despedir deles. Minha mãe parecia estar feliz com o fato de eu estar me sentindo em casa no meu posto, apesar de tão longe de casa.
- Um beijo, querido. Boa viagem! Quando chegar em Londres, me avise...você sabe que fico preocupada.
Após ela dizer isso me veio o velho chavão: "Mãe é tudo igual, só muda de endereço."
Após desligar com ela, o simpático taxista me fez uma pergunta:
- Desculpe me intrometer, mas o senhor está de mudança?
- Não não. - respondi- Estou voltando para casa.
- Ah sim...e, pelo jeito, o senhor mora longe daqui.
- Sim. - respondi-
- Deve ser difícil.
- E é mas a gente se acostuma.
Fiquei com essa conversa na cabeça. Engraçado...apesar de ter nascido e de ter sido criado aqui nunca, realmente, me senti em casa. Nunca tive muita dificuldade para me adaptar à vida fora do Brasil, apesar das previsões quase que apocalípticas dos meus amigos e parentes.
Casa... para mim é o lugar onde você se sente parte de um todo. Onde você se sente confortável o bastante para ser si mesmo. Um porto seguro para a mente e o corpo.
- Bom dia, senhor. Alguma preferência de assento?
Levei um baque. Estava tão absorvido em meus pensamentos que nem me dei conta que já tinha não só chegado no aeroporto, como retirado minha bagagem do taxi, pagado o taxista e já estava sendo atendido pela companhia aérea.
- Você tem algum na janela do lado direito?
- Deixe-me verificar...sim. Qualquer fileira?
- Pode ser.
- Ok, senhor. O senhor vai despachar somente esta mala?
- Sim, aqui está.
- Obrigado, senhor. Aqui está seu cartão de embarque. Se quiser pode aguardar no lounge o embarque.
- Obrigado.
- Boa viagem.
Após segui para o lounge da empresa, onde fui para a janela e comecei a olhar para fora.
Casa...o conceito estava circulando na mente... Seria o lugar onde nascemos, ou lugar onde nos criamos ou o lugar onde nos sentimos bem? Apesar de ter definido anteriormente que era a última opção, ainda estava reticente.
A dúvida persistia, afinal, aqui tinha meus pais, a família, os amigos mais antigos... mas não me sentia bem. Não fazia parte daqui e este lugar não tinha muito a ver comigo. Mas lá...apesar de estar longe da família e dos amigos mais antigos, eu tinha meu trabalho, e outros amigos que também me eram queridos. Além do fato de me sentir parte da vida do lugar. É inegável que me acostumei de tal sorte com a capital inglesa que às vezes tenho a impressão de ter nascido lá e de ter morado lá a vida toda. A vida é engraçada mesmo...
- Atenção passageiros do vôo British Airways 247 para Londres, favor embarcar no portão 10.
Era o meu chamado. Uma sensação agradável tomou meu corpo de assalto. Como um cobertor quente numa noite fria. Era aconchegante. Senti, também, um certo alívio de estar voltando para casa. Casa...é. Estava retornando ao lar, minha vida me espera.
October 09, 2007
There's no place like home
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
7 comments:
Londres...
Isso, joga na cara que você considera como sua casa a cidade do mundo que eu mais queria conhecer, mas nunca tive a oportunidade!
Muito legal da sua parte.
:p
Bem, como vossa senhoria já esta cansado de saber a minha opnião sobre o que falastes, nem preciso dizer o quanto me identifico com o texto certo?
Just wait. Our day will come.
tenho a ligeira impressão de que na primeira oportunidade que surgir você sai do brasil para morar na inglaterra... mas é só uma impressão, nada muito concreto...
Compra um tênis vermelho e bata com os calcanhares.
Não custa tentar.
abraços
Só toma cuidado para não acabar virando ministro inglês...
Hehehe...
Um abraço!
morar em londres até que não seria má idéia.
até porque pra quem mora em nilópolis poucos lugares seriam má idéia.
Cuidado.
Sua controladora pode ser eu. Se fosse você, já começava a rezar hoje... agora... que que você tá esperando???
Post a Comment