September 25, 2007

Le mystère du coeur

La lune plaquait ses teintes de zinc
Par angles obtus.
Des bouts de fumée en forme de cinq
Sortaient drus et noirs des hauts toits pointus.

Le ciel était gris. La bise pleurait
Ainsi qu'un basson.
Au loin, un matou frileux et discret
Miaulait d'étrange et grêle façon.

Moi, j'allais, rêvant du divin Platon
Et de Phidias,
Et de Salamine et de Marathon,
Sous l'oeil clignotant des bleus becs de gaz. (Paul Verlaine)


Janela aberta, uma brisa gelada entra. O tempo cinzento e as árvores sem folhas indicam: é inverno. Vou para a janela e vejo pessoas de casacos pesados, alguns elegantes outros nem tanto.

É inverno na cidade luz. Nesta manhã o rádio anuncia que está caindo a primeira neve do ano e, como de costume, não é nenhuma calamidade. É apenas um fino manto branco que cobre as margens do Sena.

A vida continua apressada, o caótico trânsito parisiense está lá, pelo menos é o que o reporter informa. Constato que fiz uma boa escolha ao deixar o carro na garagem e seguir de metro para o escritório.

Coloco meu sobretudo preto favorito e encontro minhas luvas nos bolsos, como de costume. Mas ao puxar a da mão direita vejo que existe algo mais ali: um coração de papel. Tentei imaginar o que seria aquilo. "Quem será que me deu isso?" pensei. Não me lembrava, mas enquanto estive com ele na mão senti uma estranha sensação de déjà-vu.

De repente algo quebra minha concentração: "estou atrasado!" gritou minha consciência, e meu relógio informava impiedosamente que estava 30 minutos além da hora.

Lancei mão de minha pasta e desci à rua. No trajeto para o metrô pude perceber a fina camada branca deixada pela neve que caíra momentos antes, uma beleza sutil e delicada que, ao primeiro momento de sol, iria desaparecer. Enquanto apreciava senti algo estranho, estava intrigado com o objeto em meu bolso. Mas resolvi deixa-lo lá e seguir para a estação mais apressadamente, afinal, como meu censor de pulso informava, precisava correr.

Desci as escadas do metrô e logo que passei o bilhete na roleta alguém me chama atenção dizendo: "Monsieur, vous avez laissé tomber votre petit papier." Agradeci ao gentil senhor e recoloquei o coração no bolso. "Devo ter deixado cair quando fui tirar a carteira", pensei.

Ao chegar em meu destino: estação Alma Marceau, me deparei com uma cena que me deixou intrigado: uma linda mulher aparentemente mais nova que eu e trajando um casaco bem elegante, estava encostada em um muro parecendo estar bastante irriquieta. Ao me aproximar dela, reparei que estava analisando algo que repousava em sua mão.

Resolvi me aproximar dela, não sei porque mas fui impelido à isso. "Qualquer coisa, eu invento uma desculpa na hora e vou-me embora.", decidi.

Fui me aproximando, tentando ao máximo ser natural. Ela não notava a minha presença, creio que devido à curiosidade com que analisava o objeto em mãos. Quando cheguei mais perto fiquei atordoado: ela segurava um coração e, por incrível que pareça, era igual ao que tinha encontrado no bolso minutos antes.

Após o choque, resolvi conversar com ela. Perguntei o que era aquilo que ela tanto analizava. Ela me disse que não sabia, que simplesmente encontrou na carteira quando foi buscar o bilhete do metrô.

Contei a ela minha estória e como encontrei o meu coração-gêmeo, ela parecia não acreditar em mim até que retirei o meu do bolso e entreguei a ela. Depois disso conversamos longamente, quando me dei conta já tinha perdido metade do expediente mas não era importante, não naquele momento.

No final de nossa conversa, percebemos que não tínhamos nos apresentado. No momento que ela começou a dizer "Je m'appelle...", ouvi um barulho ensurdecedor.

Era a alvorada, o sonho acabou. De volta à dura e triste realidade.



10 comments:

Cesar said...

Eu nunca me lembro o que eu sonho... E quando me lembro são sempre coisas estranhas e insanas. Meio que filmes do Ingmar Bergman, tipo "Gritos e Sussuros".

ghfdc said...

É... Poético... Agora, tem que sonhar de novo, para não deixar de "pegar" a mulher do sonho! Hahahaha...

E o blog não é meu, nem do Sancho... É uma "cooperativa de discípulos", na qual se prova empiricamente que não é necessário se estar ébrio para se dizer asneiras em excesso... Hehehe...

Luiz Fernando said...

bela historia cara

concordando com o comentario acima tem que sonhar de novo pra ver o que vai acontecer

e não entendi nada da parte em francês mas isso já era de se esperar.

Jiroumaru said...

O que faz aquele nem lembra de seus sonhos?

abraços

Pedro Gabriel said...

sonhos interrompidos são péssimos... isso me faz lembrar de diversos casos do gênero e alguns ainda me lembro, mas não consigo retomar. isso aconteceu uma única vez...

Cinthia Pascueto said...

Perfect!

(só pra constar: ametafisicadasorquideas.blogspot.com)

Unknown said...

errrrr

quando eu falei que a proxima seria um post em frances, sabia que eu tava brincando né??

Ahh ta so pra saber ^^


pq eu sou a unica que tenho sonhos bizarros?[isso inclui sonhar com um aviao caindo e no dia seguinte ele realmente cair!]

nha eu quero sonhos normais =(
[Thaiana frustada]
beijos

Bia Seilhe said...

"sensor de pulso" é ótimo.

Aliás, foi só falar que não tinha mais francês e pronto! Um poema em francês... Surpreendente você.

Cada vez mais lírico... Bonito post, triste, mas bonito. Principalmente por vagar nas ruas francesas.

beijo menino!

Vivian said...

Eu só vi neve em sonho. hauhauhaua
=***

Anonymous said...

Fantástico!!! Parabéns!