September 03, 2007

Encontro com Caliban


"Cuidado, leitor, ao voltar esta página! Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha de Baratária de D. Quixote, onde Sancho é rei.[...] Quase depois de Ariel esbarramos em Caliban."

"A Razão é simples. É que a unidade deste livro e capítulo funda-se numa binomia. Duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas faces." (Alvares de Azevedo)



A porta se abre iluminando a sala escura. No fundo dela, recostado em uma cadeira, pode-se perceber uma figura sombria. Mal consegue se ver seu rosto, ele é apenas um vulto. Ao entrar no aposento, tal figura acende um cigarro e, impacientemente aguarda minha chegada. A cada passo dado, o piso geme e a sala escurece. Olho ao meu redor e vejo um ambiente não apenas escuro, mas tão funesto quanto aquele que me espera. Da janela aberta vem uma brisa gelada que causa arrepios mas que parece só perturbar a mim. Ao me aproximar, o homem dirige-se a mim com uma voz grave: "Sente-se".

Obedeci, e me sentei em frente a ele. Mesmo perto, aquele homem parecia não ter rosto, parecia etéreo como um fantasma naquele ambiente sombrio.

“Você me conhece” diz o homem. “Faço parte de você e estou sempre aqui observando seus atos.”
Não respondi mas não precisei de muito tempo para concordar com aquela figura. E ele continuou: - Estou aqui para lhe falar com clareza. Você está com um problema. Não negue, afinal eu faço parte do seu espírito, quando você vaga pelo dia estou sempre nas trevas tomando conta de você. Você conhece o meu nome então não é preciso que me apresente. O que você tem feito para resolver seus problemas? Eu respondo. Nada. Tudo que tem feito vem sendo infrutífero. Decerto que para algo tudo têm servido, mas não está cumprindo o propósito que fez você se mover. Porque? Porque você é um idiota e não me dá ouvidos quando deveria. Preste atenção, seu imbecil, ele não vai te ajudar em nada, muito menos eu, a diferença é que eu não irei te atrapalhar, ao contrario dele. Não vou realçar suas ditas qualidades. Digo “ditas qualidades” porque questiono se elas realmente existem, afinal se você as tivesse não estaria nessa situação. Você está sendo enganado por Ariel, ele sim planta esperanças infundadas e que, no final, quem se frustra é somente você. Escute, você não tem nada demais, nenhum atrativo, nada. Esqueça e aceite o inaceitável: de que isso pode não ter solução.

Ao terminar de falar, o homem começou a rir compulsivamente e o riso se transformou em uma gargalhada assustadora. Não tive reação. Aquele homem tinha me paralisado e antes que pudesse argumentar, ele se levantou, apagou seu cigarro e desapareceu na escuridão.

8 comments:

Pedro Gabriel said...

atípico.(mais um comentário do tipo "ah tá", mas eu li)

Cesar said...

Me lembrei do filme joana darc com a Milla. No final ela conversa com a propria consciência interpretada pelo Dustin Hoffman.

Anonymous said...

nossa muito no estilo, vc e seus demônios internos...
bem legal!!

Anonymous said...

You've got some seeeeeeerious issues, kid.

O resto eu sempre falo com você pessoalmente, certo?!

;*

Raffaele Enrico said...

Tb anda bebendo, bernardo?

Vivian said...

Nem parece que foi escrito por um engenheiro. parabéns. =)

Jessy said...

hahahah eu concordo com tds os comentarios "akela sem inspiração" hahaa mas eh verdade... hjahahah

ah e acrescento: *___* MEDO

hahahahaha

bjundas

Bia Seilhe said...

Todos temos um Caliban na vida, menino, já te falei isso.

Mas deixa pra conversar melhor sobre esse assunto 'in persona', como combinamos.

=**